Breve introdução à Semiótica

Antes de iniciarmos nosso debate envolvendo Fantasia e Semiótica, é essencial traçar um caminho para tal, explicitando as primeiras teorias reconhecidas como o início da Semiótica.

Usarei como base para essa pesquisa o livro Tratado geral de semiótica, 2009 (editora Perspectiva), de Umberto Eco, cujo objetivo

“… é explorar as possibilidades teóricas e as funções sociais de um estudo unificado de todo e qualquer fenômeno de significação e/ou comunicação.

Esse estudo assume a forma de uma TEORIA SEMIÓTICA GERAL capaz de explicar qualquer caso de FUNÇÃO SÍGNICA em termos de SISTEMAS subjacentes correlatos de um ou mais CÓDIGOS.

Um projeto de semiótica geral compreende uma TEORIA DOS CÓDIGOS e uma TEORIA DA PRODUÇÃO SÍGNICA; a segunda teoria leva em consideração um grupo muito vasto de fenômenos, tais como o uso natural das diversas ‘linguagens’, a evolução e a transformação dos códigos, a comunicação estética, os vários tipos de interação comunicativa, o uso dos signos para mencionar coisas e estados do mundo e assim por diante.” (ECO, 2009, p.1)

Ora, se vamos debater aqui a desconstrução do signo pela criança e a maneira que o recombinam de maneira fantasiosa, para fundamentar uma Semiótica da Fantasia que possa ser aplicada em outros campos, é imprescindível explorar, antes de qualquer coisa, todas as possibilidades que a semiótica traz, de interpretação e produção sígnica.

“A semiótica tem muito a ver com o que quer que possa ser ASSUMIDO como signo. É signo tudo quanto possa ser assumido como um substituto significante de outra coisa qualquer. Esta outra coisa qualquer não precisa necessariamente existir, nem subsistir de fato no momento em que o signo ocupa seu lugar. Nesse sentido, a semiótica é, em princípio, a disciplina que estuda tudo quanto possa ser usado para mentir.

Se algo não pode ser usado para mentir, então não pode também ser usado para dizer a verdade: de fato, não pode ser usado para dizer nada.” (ECO, 2009, p.4)

Em sua afirmação, Eco nos leva a crer que tudo que identificamos e decodificamos como mundo é criado pelo homem, e é neste mundo que nos comunicamos, apropriando-se dos códigos já estabelecidos ou criando novos a partir dos já existentes, para nos fazer entender.

O homem desenvolveu diversas linguagens, diferentes maneiras de se comunicar, e cada uma delas compreende um universo de regras e representações próprias e que também podem se relacionar e se representar entre si. Pela fala, por exemplo, temos diferentes idiomas, gírias, regionalismos, termos de uma profissão, etc. As possibilidades são inúmeras.

“Segundo Saussurre (1916), ‘a língua é um sistema de signos que exprimem ideias, e, por isso, é confrontável com a escrita, o alfabeto dos surdos-mudos, os ritos simbólicos, as fórmulas de cortesia, os sinais militares, etc., etc. Ela é, simplesmente, o mais importante de tais sistemas. Pode-se, assim, conceber uma ciência que estuda a vida dos signos no quadro da vida social; (…) chama-la-emos semiologia (…). Ela poderia nos dizer em que consistem os signos, quais as leis que os regem. Por não existir ainda, não podemos dizer o que será; todavia, tem o direito de existir e seu posto está determinado de começo”. (ECO, 2009, p.9)

Saussurre foi fundamental à semiótica contemporânea, pois “antecipou e determinou todas as definições posteriores de função sígnica” (ECO, 2009, p.10).

Mas, diferente de Saussurre que se limitou a linguística, Peirce foi além ao considerar o signo de uma maneira geral, onde (apud ECO, 2009, p.10) um signo é qualquer coisa que está para alguém no lugar de algo sob determinados aspectos ou capacidades.

E partindo desse princípio, Eco propõe (2009, p.11) “definir como signo tudo quanto, à base de uma convenção social previamente aceita, possa ser entendido como ALGO QUE ESTÁ NO LUGAR DE OUTRA COISA.” E ainda “aceita-se a definição de Morris (1938), para quem ‘uma coisa é um signo somente por ser interpretada como signo de algo por algum intérprete; assim, a semiótica não tem nada a ver com o estudo de um tipo particular de objetos, mas com os objetos comuns na medida em que (e só na medida em que) participem da semiose.’”.

Logo, podemos entender por signo toda e qualquer coisa dotada de significado, que represente outra coisa e que faça parte de um conjunto de códigos de determinado grupo.

Tomemos como exemplo uma criança, que com o tempo passa a entender que |mãe| é o signo que representa aquela que cuida e se preocupa com ela, sua progenitora. Assim como |progenitora| pode representar |mãe|, mas sob outro aspecto. Ela aprende que, ao se utilizar de |mãe|, sua mãe irá atendê-lo. Mas consideremos um pouco da Fantasia de Gianni Rodari, e especulemos de que outra maneira a criança poderia chamar sua mãe, caso não fosse ensinada que essa é a forma convencionalmente aceita. Sempre surge, por exemplo, o momento no qual a criança questiona o porque chamarem sua mãe por outros signos (como o nome, por exemplo). O que a impediria de dar um novo signo para sua mãe? Esse é o ponto mais surpreendente da infância. Ela questiona o que para nós é óbvio e propõe novas soluções onde o antigo não funciona para ela.

Aprendendo como funciona essa cadeia de significações, podemos nos tornar capazes de nos comunicar melhor, compreender o próximo e recriar o mundo.

Referências Bibliográficas

ECO, Umberto, 1932

Tratado geral de semiótica / Umberto Eco [tradução de Antonio de Pádua Danesi e Gilson Cesar Cardoso de Souza]. – São Paulo: Perspectiva, 2009 – (Estudos ; 73 / dirigida por J. Guinsburg)

 

Sobre Yuri Amaral

sou formado em publicidade e propaganda e atualmente curso o programa de pós graduação em estudos interdisciplinares da unila. ainda na época da faculdade empreendi alguns projetos, como uma revista, um fanzine e um evento de cultura pop japonesa. atualmente, dou aulas no curso de comunicação social de um centro universitário local, em foz do iguaçu, pr.
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